MATRIZES

Matriz, por definição, é origem e fundamento — mas é também um termo de vastos significados, que atravessam o técnico, o simbólico e o cultural.

Neste contexto, a matriz é ponto de partida e estrutura central — tanto como conceito, como superfície de trabalho — onde a imagem se constrói, se transforma e se acumula. No centro está a matriz — superfície de construção, mas também de acumulação, onde a gravura, nomeadamente através da colagrafia e da ponta seca, opera como gesto interpretativo. Mais do que veículo de reprodução, a matriz é aqui entendida como estrutura autónoma, portadora de uma arqueologia própria — fragmentos, camadas, resíduos — que convocam uma temporalidade sedimentar.

O termo “matriz” abre-se a uma pluralidade de sentidos: técnico, conceptual e poético. Enquanto superfície onde se gera a imagem impressa, evoca igualmente a ideia de génese e de estrutura. Neste contexto, expande-se para abarcar a ideia de legado — material, histórico e cultural — e aproxima- se da ruína enquanto forma residual e reveladora. É nesse cruzamento entre construção e desgaste, permanência e perda, que se desenha o eixo deste trabalho.

A exposição resulta de uma investigação visual e material em torno do legado industrial britânico no Alentejo, com especial foco no século XIX. Minas abandonadas, linhas férreas desactivadas, infra-estruturas devolvidas ao tempo: estes elementos não são aqui representados, mas reconfigurados. A matriz assume o lugar de tradução — não mimética, mas afectiva e crítica — dessas presenças transformadas.

As impressões obtidas não funcionam como reprodução directa da matriz, mas como registos parciais do processo. Monotípicas, testemunham um momento do percurso e possuem densidade própria enquanto objectos.